sexta-feira, 6 de setembro de 2013



ELA


Simplesmente ela! A causadora de todos os meus constrangimentos, aquela que faz questão de denunciar o quanto estou ficando velho. Essa “moça fagueira” não é mais a mesma, agora vive pregando peças, tumultuando minha simples vidinha. Nunca pensei vê-la deixando de guardar as datas importantes, os nomes das pessoas e os momentos inesquecíveis. Ela está querendo jogar a toalha, essa é a mais pura verdade e não adianta tapar o sol com a peneira. Tantos anos de companheirismo, de dedicação, e a desgraçada quer me largar, acabando com um pouco de dignidade que ainda me resta.
Não direi nem sob tortura o nome daquela que inúmeras vezes me fez ficar com cara de paspalho ao não lembrar onde deixei a chave de casa, e como se chamava a pessoa que eu tinha acabado de conhecer. Ela está falhando constantemente e nem mesmo um jogo de palavras cruzadas consegue reanimá-la.  Não sei se posso ainda confiar nela para lembrar o caminho de volta para minha residência ou lembrar a senha do cartão de crédito, mas por via das dúvidas, tenho tudo anotado na agenda. Nunca suspeitei do prazo de garantia dessa criatura, e sinceramente não sei se ela, moradora da minha cachola, tem um tempo determinado para funcionar nos conformes.
Confesso a minha falta de cuidado ao exigir bastante dela nos últimos anos, foram tantos os acontecimentos (bons e ruins), milhares de imagens, várias conexões feitas entre o passado e o presente, e o resultado é isso aí: ela exaurida e cheia de lacunas. Infelizmente ela não vem com uma bateria recarregável e nem com um manual de instruções dizendo como usar e o que fazer quando começar a dar defeito. Não posso levá-la à assistência técnica e pegar depois, no máximo apelar para uma medicina alternativa, dessas que não vai lhe viciar na paranóia dos remédios de tarja preta ou vermelha.
Devo pegar leve com essa “diaba” de agora em diante, se eu quiser permanecer com meu juízo perfeito, sabendo quem eu sou e onde estou, evitando mais situações vexatórias na frente da família, dos amigos e de estranhos, pois ela cujo nome não revelo, surge feito um lampejo e desaparece logo em seguida, carregando consigo parte de minha história.


                                                                                                                              Reinaldo Souza             
                                                                                                                                               22/05/2013

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