ELA
Simplesmente
ela! A causadora de todos os meus constrangimentos, aquela que faz questão de
denunciar o quanto estou ficando velho. Essa “moça fagueira” não é mais a
mesma, agora vive pregando peças, tumultuando minha simples vidinha. Nunca
pensei vê-la deixando de guardar as datas importantes, os nomes das pessoas e
os momentos inesquecíveis. Ela está querendo jogar a toalha, essa é a mais pura
verdade e não adianta tapar o sol com a peneira. Tantos anos de companheirismo,
de dedicação, e a desgraçada quer me largar, acabando com um pouco de dignidade
que ainda me resta.
Não
direi nem sob tortura o nome daquela que inúmeras vezes me fez ficar com cara
de paspalho ao não lembrar onde deixei a chave de casa, e como se chamava a
pessoa que eu tinha acabado de conhecer. Ela está falhando constantemente e nem
mesmo um jogo de palavras cruzadas consegue reanimá-la. Não sei se posso ainda confiar nela para
lembrar o caminho de volta para minha residência ou lembrar a senha do cartão
de crédito, mas por via das dúvidas, tenho tudo anotado na agenda. Nunca
suspeitei do prazo de garantia dessa criatura, e sinceramente não sei se ela,
moradora da minha cachola, tem um tempo determinado para funcionar nos
conformes.
Confesso
a minha falta de cuidado ao exigir bastante dela nos últimos anos, foram tantos
os acontecimentos (bons e ruins), milhares de imagens, várias conexões feitas
entre o passado e o presente, e o resultado é isso aí: ela exaurida e cheia de
lacunas. Infelizmente ela não vem com uma bateria recarregável e nem com um
manual de instruções dizendo como usar e o que fazer quando começar a dar
defeito. Não posso levá-la à assistência técnica e pegar depois, no máximo
apelar para uma medicina alternativa, dessas que não vai lhe viciar na paranóia
dos remédios de tarja preta ou vermelha.
Devo
pegar leve com essa “diaba” de agora em diante, se eu quiser permanecer com meu
juízo perfeito, sabendo quem eu sou e onde estou, evitando mais situações
vexatórias na frente da família, dos amigos e de estranhos, pois ela cujo nome
não revelo, surge feito um lampejo e desaparece logo em seguida, carregando
consigo parte de minha história.
Reinaldo Souza
22/05/2013